Uma geração de amantes de música não pode desconhecer Heitor Villa-Lobos. No ano do centenário da Semana de Arte Moderna, nossas turmas de 3º ano do Ensino Fundamental Anos Iniciais conheceram o museu que homenageia o artista carioca que marcou o principal evento artístico da história da cidade de São Paulo e até do Brasil. Modernista como foi, quis pensar um só Brasil, registrando em sua obra o que de mais belo temos em nossa natureza, como afirmou:
“Sim, sou brasileiro e bem brasileiro. Na minha música deixo cantar os rios e os mares deste grande Brasil. Eu não ponho mordaça na exuberância tropical de nossas florestas e dos nossos céus, que transporto instintivamente para tudo que escrevo.”
Ainda em vida, Heitor Villa-Lobos foi considerado o maior compositor americano. Suas quase mil obras destacam-se não só pela qualidade estética, mas também por promover um amplo processo de reformulação do cenário musical brasileiro do século XX. Do popular ao erudito, Villa-Lobos é reconhecido também por ter propagado o estilo “música de concerto” no Brasil.
Seu pai, Raul Villa-Lobos, era funcionário da Biblioteca Nacional e sua mãe, Noêmia Villa-Lobos, dona de casa. De família humilde, os primeiros contatos com a música vieram por meio de seu pai, com quem aprende a tocar clarinete e violoncelo. Como este último era um instrumento muito caro, Raul ensinava seu filho Heitor, de apenas seis anos de idade, com uma espécie de viola adaptada. Ao passar por algumas cidades do interior fluminense, como Sapucaia, e outras, de Minas Gerais, como Bicas e Mar de Espanha, Heitor Villa-Lobos conhece os ritmos do folclore musical brasileiro, como as modas caipiras e as rodas de viola, sons que mais tarde serviriam de inspiração às suas composições.
“A música folclórica é a expansão, o desenvolvimento livre do próprio povo expresso pelo som.”
Quando retorna ao Rio de Janeiro, vê sua casa se tornar um grande ponto de encontro dos artistas da época – fato determinante na consolidação da sua formação musical.
Depois que seu pai morre de Malária, em 1899, Noêmia Villa-Lobos, sua mãe, precisa trabalhar fora para sustentar a família e começa a prestar serviços como engomadeira e passadeira para a famosa e tradicional Confeitaria Colombo, que até hoje atrai cariocas e turistas com seu estilo imperial.
Ainda que contrário à vontade de sua mãe, Heitor Villa-Lobos começa a estudar violão, desejo despertado por um ritmo marginalizado: o choro – uma espécie de sambinha tocado em festas de rua e que, mais tarde, se popularizaria no nosso tão famoso carnaval.
Com a música e pela música, Villa-Lobos viaja por diversas partes do Brasil, como Espírito Santo e Bahia, até chegar a Paranaguá, no Paraná, onde reside por algum tempo.
Mais tarde, viajando novamente, conhece capitais como Fortaleza, Salvador, Belém e Manaus, como violoncelista de uma companhia musical. Ter conhecido a Amazônia foi, provavelmente, o feito mais marcante de suas viagens e, sem dúvidas, o que mais marcou a brasilidade de sua obra. Em 1915, Villa-Lobos já se apresentava oficialmente como um compositor renomado e, tido como modernista, foi convidado, pelo escritor maranhense Graça Aranha, a participar, em 1922, da Semana de Arte Moderna, no Theatro Municipal de São Paulo. Por um suposto inchaço nos pés toca de chinelo em meio a mais imponente casa de espetáculos de São Paulo, o que fica como mais um marco da ousadia estética e da ruptura com o academicismo propostas pela chamada Semana de 22.
“A minha música é o reflexo da sinceridade.”
Depois de ficar bastante conhecido no Brasil, seus amigos o incentivam a tentar uma carreira na Europa e chegam até a apresentar um projeto à Câmera dos Deputados na intenção de financiar a ida do artista a Paris.
Apesar de protestos de parte da sociedade, a proposta é aceita e Villa-Lobos dá início a uma carreira internacional, em 1923. Adentra ao ambiente artístico parisiense com o apoio de alguns artistas plásticos do Brasil, principalmente, a cubista Tarsila do Amaral.
Depois de se apresentar regendo orquestras nas principais capitais européias, Villa-Lobos recebe, em 1932, um convite que mudaria sua vida: Anísio Teixeira, então diretor-geral de Instrução Pública do Distrito Federal, convida-o para comandar um grande projeto de reformulação do ensino de música e da prática de corais nas escolas fluminenses, inspirado na chamada Escola Nova, além de dirigir também o Serviço de Música e Canto Orfeônico, que mais tarde se chamaria Superintendência de Educação Musical e Artística (SEMA).
Na visita ao Museu Villa-Lobos, em Botafogo, além de conhecer a história desse grande artista que levou o nome do Brasil para os centros europeus de cultura e música, nossos alunos do 3º ano do Ensino Fundamental Anos Iniciais também puderam participar de uma oficina com o artista e educador Dauá Puri, indígena da etnia Puri.
Autor do primeiro livro bilíngue Puri/Português, “Alkeh Poteh – Poeira de Luz”, Dauá Puri é também jornalista, contador de histórias e poeta. Na atividade que é uma parceria do Museu Villa-Lobos com o Museu do Índio, nossos alunos aprenderam palavras da língua Puri e tiveram contato com instrumentos percussivos construídos a partir de elementos da natureza.
Nesse encontro afinado com a curiosidade musical e histórica dos nossos educandos, pudemos ter uma percepção maior do que é a originalidade musical brasileira, bem como da importância do respeito à diversidade étnica e cultural de todos os povos. Além de um especial momento de interação e convivência dos nossos alunos com seus colegas, estamos certos de que esta visita foi também um marco importante em suas jornadas de aprendizado, constituindo-se como uma significativa experiência de vida e conhecimento.